terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sociedade do Conhecimento

Sociedade do Conhecimento

“Aprendo quando uso meu cérebro. Uso meu coração quando ensino”. (LÉVY,2000,P.13)

A sociedade do conhecimento, também chamada de sociedade aprendente ou de aprendizagem, requer uma nova leitura do mundo em que vivemos. Entretanto Figueiredo (2005, p.56), o difícil é nos despirmos de velhos conceitos, velhas linguagens, de paradigmas passadas, quando eles ainda são naturalmente uma parte de nós mesmos. Para nos tornarmos aprendizes, precisamos desaprender, recuperando a capacidade que as crianças naturalmente possuem de nos surpreendermos com as coisas, à admiração na qual Aristóteles identificou a origem da Filosofia.  Enquanto seres pertencentes a um sistema biológico, certamente  têm duas funções básicas: a necessidade de sobrevivência que nos leva à adaptação e a necessidade de ter uma estrutura interna ordenada, que faz com que nos voltemos à organização. Em decorrência, devemos   sempre buscar o equilíbrio, a assimilação e a adequação para gerenciar os conflitos relativos a tais funções.
           Ao se efetuar uma transferência desses princípios para  aprendizagem pode-se dizer que enquanto seres humanos, precisam adquirir  o conhecimento sobre o nosso meio ambiente e nossas relações durante toda a vida.
           Assim, Lévy (2000,  p.76), coloca que os  resultados das experiências fazem as associações entre os eventos do mundo ao nosso redor. Isso nos leva a considerar que a aprendizagem somente acontece quando ocorre a mudança de comportamento do ser humano, em resposta a uma experiência anterior, requerendo a existência de um significado efetivo para o aprendiz. Propiciar uma aprendizagem significativa consiste em considerar a maneira própria de pensar das pessoas e perceber as contradições e inconsistências, buscando saber o que sabem e o que ainda precisam saber. Há necessidade de se entender que aprender é um processo complexo, onde o ser humano deve ser o sujeito ativo na construção do conhecimento, e que este somente se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade.
          O conhecimento segundo Lévy (2000, p.81), é o principal fator  de inovação disponível ao ser humano. Não é apenas um recurso renovável, ele cresce exponencialmente na medida em que é explorado, o conhecimento não é constituído de verdades estáticas, mas um processo dinâmico, que acompanha a vida humana e não constitui em uma mera cópia do mundo exterior, sendo um guia para a ação. Ele emerge da interação social e tem como característica fundamental poder ser manifestado e transferido por intermédio da comunicação. A capacidade de aprender, de desenvolver novos padrões de interpretação e de ação, depende da diversidade e da natureza vária de conhecimento.
          Existe para Lévy (2001, p.79), uma concordância quanto à importância da presença da inovação e das práticas de investigação no contexto das instituições educacionais, assim como sobre a necessidade do desenvolvimento de competências para estas duas atividades nos processos de formação básica e permanente das pessoas. A competência, nesse contexto, é por nós entendida no sentido explicitado por Perrenoud (1999, p.23) que mencionou ser uma competência um saber-mobilizar. Trata-se, portanto,  não de uma técnica ou de mais um saber, mas de uma capacidade de mobilizar um conjunto de recursos, conhecimentos, know-how, esquemas de avaliação e de ação, ferramentas, atitudes  a fim de enfrentar com eficácia situações complexas e inéditas. Sob a égide de uma educação voltada para o desenvolvimento de competências, uma visão prospectiva da educação nos é oferecida por Morin (2001, p.89-90) ao afirmar que:
        Não basta que cada qual acumule no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que se possa abastecer indefinidamente. É, antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer esses conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança, que vivemos afasta-se radicalmente da Sociedade Industrial para se constituir uma Sociedade da Informação, ou mais apropriadamente, uma Sociedade de Conhecimento voltada a uma preocupação de aprender aprendendo. Neste contexto, associam-se à informação, características de revisão contínua e de crescente grau de complexidade. Seu conceito está intimamente ligado a novas experiências de espaço e tempo.
           Assim, as palavras Conhecimento e Educação voltaram a exercer um novo fascínio.  Em decorrência, temos, então, a existência de um campo semântico em implementação e que merece ser abordado mediante a leitura e reflexão crítica. Para poderem dar respostas ao conjunto das missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; e finalmente aprender a ser, via essencial que integra os três precedentes. É claro que estas quatro via do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta. (Morin, 2001, p.90)
          Segundo Assmann (2001, p.31), a educação tem elos entre o passado e o futuro, entre os sujeitos e as sociedades e entre o desenvolvimento de competências e a formação de identidades. É o caminho onde elas compartilham os seus legados culturais, para que os momentos da história possam ser edificados sobre o que várias gerações construíram; do mesmo modo, torna possível que os sujeitos se apropriem desse legado e, a partir dele, construam uma identidade própria que os distinguem em seu trajeto de vida. Além disso, que ao mesmo tempo, os transforme em integrantes de alguma comunidade humana, sem a qual se perde o direito de viver. Por meio da educação, os indivíduos e as sociedades se tornam competentes para a sobrevivência, para a existência e a convivência. Segundo Lévy (1999, p.34), a “Educação é o resultado do trabalho de milhares de pessoas que, em sua interação, ensinam e aprendem”, podendo-se considerar a atividade educativa como uma responsabilidade das famílias, da sociedade e do Estado.
           Quando nos referimos às famílias, estamos enfatizando tanto a sua função socializadora primária, como o dever de buscar todos os meios para que os seus integrantes possam ter acesso aos bens culturais e às ofertas que cada sociedade disponibiliza aos seus cidadãos. Ao Estado, é confiada a responsabilidade de oferecer possibilidades concretas para que todos tenham acesso, permaneçam e alcancem os melhores resultados em cada contexto. Às sociedades, são solicitadas de maneira difusa, que apostem, tanto na instrução como na formação de valores, por intermédio dos meios de comunicação e das mais diversas formas de cooperação.
         A missão da educação, na sociedade hoje segundo Vygotskyl (1991, p.55),  reside em permitir que sejam exploradas e criadas formas de ajuda aos jovens para olhar a escola como um local  de aprendizagem e que, uma vez cumprido o ciclo básico, possam a ela regressar para continuar aprendendo mediante o encontro com crianças, com outros jovens e com adultos que ali também se  acham  para compartilhar seu saber, ampliar as fronteiras do conhecimento e encontrar novos caminhos para a vida. Todo ritual de uma sala de aula centra-se diariamente em torno do conhecimento, devendo todas as ações e práticas desse contexto orientar-se para a garantia do acesso às fontes de informação, estímulo ao trabalho intelectual, à mobilização das fronteiras próprias e coletivas do saber, colocando-o em circulação e incorporando-o à geração de novo conhecimento.  Aliando-se a essa concepção educacional atual, encontramos também as chamadas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC’s) que vêm contribuir com outros desafios, acrescentando às competências atribuídas aos  professores científicas, curriculares, pedagógicas, relacionais, sócio-culturais outras capacidades como as de exploração pedagógica de novos recursos tecnológicos, envolvendo desde a sua seleção, preparação do trabalho a ser desenvolvido com a multimídia, utilização e avaliação. Segundo Lévy (2002, p.38), a Sociedade de Conhecimento está em construção e nos obriga, por um lado à melhoria da qualidade da educação fundamental, na lógica da criação, da iniciativa, de responsabilidade social e do exercício da cidadania. Por outro lado isso nos leva também à necessidade da promoção e diversificação da formação dos jovens, apostando na melhor qualificação, na produtividade e empregabilidade para as futuras gerações. Por fim, à criação de condições para uma educação ao longo da vida e para se reconhecer qualquer conhecimento que vier a ser adquirido também por outras formas, como requisito de inovação e desenvolvimento social. Deve-se pensar na educação como um processo ao longo da vida, reiterar-se que se esta falando da intervenção da sociedade para que exista o estímulo à criatividade individual que conduz as pessoas a alcançar a sua plenitude nesse sentido, aliada ao estímulo à criatividade social que as leva à integração ao seu grupo cultural.
          Cabe ressaltar, ainda, que toda proposta educacional deve estar balizada na ética da diversidade que se traduz em:
·        Respeito pelo outro em todas as suas diferenças.
·        Solidariedade para com o outro na satisfação de suas necessidades de sobrevivência e transcendência.
·        Cooperação com o outro na preservação e inovação do patrimônio natural  e cultural comum.
          As metas para os educadores neste novo século, devem ser as identificações do que é comum na busca da verdade e sabedoria entre todas as culturas e pessoas, aprendendo com os outros a corrigir os equívocos, a resistir à tentação de considerar as nossas tradições como sendo superiores a outras e a buscar uma solução condensada para os diferentes problemas que precisamos enfrentar de forma harmônica.
          Para tanto, é necessário que se tenha espaços de construção  e expressão,  como o que nos oferece a Internet, permitindo a existência de processos de comunicação, diálogo e debates, os quais deve dar legitimidade institucional, permanência no tempo e projeção local, regional ou internacional às idéias geradas.
         Nesse em particular, o provérbio chinês que diz que, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um. Porém, se os dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas.  A  declaração de esperança  de Lévy (2001, p.67), sobre um direito que é inalienável, quando mencionou que frente aos numerosos desafios do futuro, a educação constitui instrumento indispensável para que a humanidade possa progredir face aos ideais de Paz, Liberdade e Justiça Social. Espera-se que essa declaração realmente venha nortear as ações que envolvem a concepção de uma Sociedade do Conhecimento em direção à construção de um Mundo Melhor.
      


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 2001..
CASTORINA, Juan. A. Piaget-Vigotsky. São Paulo: Ática, 1996.
FIGUEREDO, Saulo. Gestão do Conhecimento - Estratégias. São Paulo: Quality Mark, 2005.
KALINKE, Marco Aurélio. Internet na Educação.São Paulo: Chian, 2001..
LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência - O Futuro do Pensamento na Era da Informática. 34 ed. São Paulo: 2001.
____________.O defensor da inteligência coletiva. 34 ed. São Paulo: 2002.
____________.As Tecnologias das Inteligências. 34 ed. São Paulo: 2001.
MORAN, José Manuel. Novas tecnologias e o reencantamento do mundo. Revista Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, vol. 23, n. 126, set. /out. 1995.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à Educação do Futuro. Rio de Janeiro: Cortez/UNESCO, 2001.

PERRENOUD, P. Construindo as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999..
VYGOTSKY L. S. Pensamento e Linguagem. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes,1991.

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